Os cientistas mostraram que um ingrediente ativo da cannabis estende a vida útil e a saúde dos vermes nematóides C. elegans. Dois dos componentes mais conhecidos da maconha são o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). Eles têm a mesma composição atômica, mas diferem na estrutura e em algumas de suas qualidades. O THC é o que te deixa chapado, enquanto o CBD pode até amortecer o efeito do THC. Embora tanto o THC quanto o CBD pareçam ter algumas qualidades benéficas, o THC também é responsável pelos efeitos deletérios que os usuários pesados podem experimentar, como mudanças de humor, declínio cognitivo e até mudanças na composição do cérebro [2]. O CBD, por outro lado, é considerado benigno e possui propriedades antipsicóticas, pró-cognitivas, anti-inflamatórias, anticonvulsivantes e antioxidantes. Em junho de 2018, o FDA aprovou o Epidolex, o primeiro medicamento prescrito à base de CBD, para formas raras de epilepsia e, posteriormente, . No entanto, a pesquisa em ambos os compostos ainda está em sua infância. Neste novo estudo, os cientistas mergulharam mais fundo no funcionamento do CBD usando o verme nematoide Caenorhabditis elegans (C. elegans), que é considerado um bom modelo para estudos iniciais, inclusive em gerociência. C. elegans foi o primeiro organismo multicelular a ter sua vida útil estendida pela edição de genes. Aumento da autofagia Pesquisas anteriores mostraram que o CBD pode aumentar a expectativa de vida em C. elegans e zebrafish [3], mas o mecanismo permaneceu desconhecido. Outro estudo descobriu que o CBD induz a autofagia em células neuronais cultivadas [4]. Neste novo estudo, os pesquisadores tentaram investigar a relação entre esses dois efeitos. A autofagia é o processo de limpeza de vários detritos celulares, como proteínas mal dobradas e organelas disfuncionais. Sem surpresa, este sistema de manutenção parece ser muito importante para a saúde e longevidade em numerosos organismos modelo e em humanos.
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O tratamento com CBD aumentou muito a atividade autofágica em vários tecidos e tipos de células, mais drasticamente nos neurônios (em 78%). Os pesquisadores então validaram essas descobertas in vitro em vários tipos de células, incluindo neurônios primários do hipocampo de camundongos. É importante ressaltar que a autofagia prejudicada no cérebro é considerada uma das principais causas da doença de Alzheimer [5]. A autofagia é um processo complexo que pode ser prejudicado em vários estágios. O fluxo autofágico é uma medida específica de quão rápido o material molecular indesejado está sendo degradado e quantifica a “saúde autofágica” geral. Nos experimentos, o CBD aumentou drasticamente o fluxo autofágico in vivo e in vitro. Viva o verme Worms em CBD também viveram significativamente mais do que os controles. No entanto, vários compostos e intervenções demonstraram aumentar a vida útil curta de C. elegans por margens muito maiores. Ainda assim, um aumento significativo da expectativa de vida é uma boa indicação de que o tratamento tornou os vermes mais saudáveis.
Os pesquisadores também mediram o tempo de vida dos vermes. Muitas intervenções que prolongam a expectativa de vida em C. elegans muitas vezes levam ao comprometimento funcional, como diminuição da motilidade. Três métricas de saúde populares em C. elegans que diminuem com a idade são taxa de bombeamento faríngeo, capacidade reprodutiva e locomoção, e todas as três foram significativamente restauradas, em vez de prejudicadas, pelo tratamento com CBD. Com a idade, os neurônios em C. elegans sofrem alterações morfológicas, adquirindo forma irregular. O tratamento com CBD foi capaz de mitigar o número de neurônios de forma irregular, embora não em níveis juvenis. O CBD também levou a um aumento no comprimento da neurite e na densidade da coluna, duas métricas de saúde neuronal, em neurônios de camundongos.
Para determinar se o aumento na expectativa de vida foi devido a mais atividade autofágica, os pesquisadores eliminaram três genes diferentes relacionados à autofagia, sqst-1 vps-34, bec-1, usando interferência de RNA. Em dois dos casos, o nocaute encurtou a vida útil dos vermes e, em todos os três casos, o tratamento subsequente com CBD não conseguiu prolongá-la, confirmando que a autofagia é essencial para o aumento da vida útil mediado pelo CBD. O ortólogo de SIRT1 medeia o efeito O gene SIRT1 tem sido um objeto de estudo popular em gerociência. Um de seus papéis é um mediador da autofagia [6]. Em C. elegans, não existe um gene homólogo (idêntico) ao SIRT1, mas um ortólogo – um gene com uma sequência diferente, mas com função semelhante – denominado sir-2.1. O nocaute do sir-2.1 bloqueou principalmente os efeitos benéficos do CBD na autofagia e na morfologia neuronal. Os camundongos, por outro lado, têm seu próprio gene SIRT1, e seu nocaute nos neurônios do camundongo também obliterou muitos benefícios do CBD, apontando para um papel crucial do SIRT1 na mediação dos efeitos induzidos pelo CBD.
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Conclusão Deixando de lado sua origem, o CBD é um composto intrigante que pode ter inúmeras qualidades benéficas. Este estudo expande nossa compreensão dos efeitos do CBD, ligando-os à autofagia, um processo importante que continua aparecendo nos radares dos gerocientistas. É encorajador que o CBD demonstre o efeito pró-autofagia mais forte nos neurônios, tornando-o um potencial medicamento anti-Alzheimer. Obviamente, o fato de o CBD aumentar a autofagia em vermes não significa que fumar maconha torne os humanos mais saudáveis. Nosso conselho seria aguardar os testes em humanos antes de tentar receber os efeitos relacionados dos produtos CBD. Gostaríamos de lhe pedir um pequeno favor.
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